Estudo de 2011 mediu 136 geleiras da Antártica ao Canadá e da Bolívia ao Japão: 90% estão recuando
Mito climático:

“Relatórios estão chegando de todas as partes do mundo: pela primeira vez em 250 anos as geleiras no Alasca, Canadá, Nova Zelândia, Groenlândia, e agora na Noruega, estão crescendo.” (JamulBlog)

Geleiras respondem direta e rapidamente às condições atmosféricas. Quando aumentam as temperaturas, o degelo de verão aumenta. Contudo, o acúmulo de gelo no inverno também aumenta por causa da maior precipitação de neve. A temperatura do ar tende a ter um papel dominante – há uma correlação estatística forte entre a temperatura do ar e as flutuações das geleiras por grandes distâncias (Greene 2005). Geralmente, quando as temperaturas aumentam, as geleiras regridem.

Consequentemente, como elas são muito sensíveis a mudanças nas temperaturas, dão pistas sobre os efeitos do aquecimento global. O balanço de massa de uma geleira é medido por várias técnicas. Métodos glaciológicos diretos incluem estacas de ablação, poços e sondas de neve. Esses dados são então combinados com estudos geodésicos independentes, coletados e publicados pelo World Glacier Monitoring Service (WGMS).

No período de 1946 a 2005, o WGMS monitorou 228 geleiras. Apenas algumas foram avaliadas nos primeiros anos, mas progressivamente observações foram incluídas na base de dados, proporcionando uma imagem mais ampla do balanço de massa global. As observações de alta qualidade das geleiras estão em andamento, são contínuas e de longo prazo. Há 30 geleiras em 9 diferentes cadeias de montanhas que têm sido medidas continuamente desde 1976 (11 delas remontando a 1960 ou antes disso). São consideradas ‘geleiras de referência’. A Figura 1 mostra o número total de geleiras monitoradas desde 1946. As colunas pretas e cinza escuras indicam o número de “geleiras referência”.

Figura 1: Geleiras observadas de 1946 a 2006 (Zemp 2009)

O que as observações dessas geleiras revelam? A tabela abaixo mostra o balanço de massa individual das geleiras em 2002 e 2003. Valores negativos indicam redução. Há geleiras isoladas que estão crescendo. Contudo, focar somente nestas poucas para mostrar o crescimento global aponta uma imagem enganadora. A grande maioria das geleiras está recuando. E, principalmente, a tendência de redução está aumentando (p.ex. – 77% em 2002, 94% em 2003).

Figura 2: Balanço de massa das geleiras em 2002 (azul) e 2003 (vermelho). (WGMS)

No seu relatório de 2011, o WGMS mediu 136 geleiras da Antártica ao Canadá e da Bolívia ao Japão. Constatou que cerca de 90% delas estão recuando (em vermelho na Figura 3).

Figura 3: Percentual de geleiras crescendo e recuando em 2008-2009, do relatório do WGMS de 2011.

Um grupo de 37 “geleiras referência”, que têm sido medidas continuamente por décadas, foi usado para análise de dados. Na média, geleiras perderam cerca de 60 cm de espessura em cada ano (2008 e 2009), perto da média para a década, mas mais rápido do que nos anos 1990, e muito mais rápido do que nos anos 1980.

Sobre a tendência de longo prazo na mudança da massa global de glaciares, há vários métodos para fazer esse cálculo. Um deles é usar o valor médio das 30 “geleiras referência”. Outro é calcular a média móvel de todas as geleiras disponíveis. Os resultados para ambos os métodos são apresentados na Figura 4. A linha laranja é a alteração média da massa das 30 “geleiras referência”. A linha azul inclui todas as geleiras.

Figura 4: Curvas de balanços de massa cumulativas para a média de todas as geleiras e para as 30 geleiras ‘referência’ (WGMS 2008)

As duas abordagens mostram resultados consistentes (com todas as geleiras apresentando aumento em massa ligeiramente mais rápido se comparado às 30 de referência). Há uma forte perda de massa na primeira década a partir de 1945. Nessa época, existiam apenas algumas geleiras monitoradas – não exatamente uma amostra global. A perda de massa desacelerou na segunda década, de modo que, por volta de 1970, o balanço de massa global chegou perto de zero. As geleiras estavam quase em equilíbrio, o que indica que a redução das geleiras no fim do século 20 é essencialmente uma resposta ao aquecimento global pós-1970 (Greene 2005).

Depois de 1975, a retração das geleiras continuou acelerada. A perda de massa de 1996 a 2005 é mais que o dobro da taxa de perda de massa da década anterior, de 1986 a 1995, e mais de quatro vezes a taxa de perda de massa de 1976 a 1985. Focar em algumas geleiras específicas pode induzir a uma análise incorreta da tendência global das geleiras. O fato é que, globalmente, as geleiras estão encolhendo a uma taxa acelerada.

 

Este texto foi adaptado do site Skeptical Science. Leia em português aqui (por claudiagroposo) e o original em inglês aqui (por dana1981).