Queimadas aumentaram 20% na Amazônia e 130% no Pantanal em 2020, ao contrário do que afirma Bolsonaro

Pressionado em razão do aumento do desmatamento e das queimadas no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro voltou a divulgar informações falsas, distorcidas e imprecisas sobre meio ambiente em discurso durante a cúpula do G20 neste domingo (22/11).

Dias após ter recuado da promessa de apresentar uma lista de países que teriam comprado madeira ilegal do Brasil, Bolsonaro exaltou o agro nacional e mencionou mais uma vez o que chama de “ataques injustificados” de “nações menos sustentáveis”. “O que apresento aqui são fatos, e não narrativas. São dados concretos, e não frases demagógicas”, discursou. Checamos as declarações. Veja abaixo:


“Hoje nosso país exporta volume imenso de produtos agrícolas e pecuários sustentáveis e de qualidade. Alimentamos quase 1,5 bilhão de pessoas e garantimos a segurança alimentar de diversos países. Ressalto que essa verdadeira revolução agrícola no Brasil foi realizada utilizando apenas 8% de nossas terras para a agricultura e 19% para a pecuária.”

FALACIOSO

Estudo recente publicado na Science e divulgado pela imprensa indica que pelo menos um quinto das importações de soja brasileira realizadas pela União Europeia vem de terras desmatadas ilegalmente na Amazônia e no Cerrado.

Dados da Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, mostram que 63% de toda a área desmatada na Amazônia está ocupada com pastagens. O desmatamento dessas áreas ocorreu de forma ilegal, desrespeitando a legislação brasileira que trata da vegetação nativa.

“Por isso, cerca de 66% de nosso território se encontra preservado com vegetação nativa. Tenho orgulho de apresentar esses números e reafirmar que trabalharemos sempre para manter esse elevado nível de preservação, bem como repelir ataques injustificados proferidos por nações menos competitivas e menos sustentáveis.”

FALACIOSO

Cerca de 66% do Brasil está coberto com vegetação nativa, mas isso é muito diferente de dizer que essas áreas estão “preservadas”. Parte da vegetação nativa está em áreas privadas, que podem ser legalmente desmatadas a percentuais que variam de 20% (na floresta amazônica) a 80% (nos demais biomas), conforme previsto no código florestal. Mesmo nos 66% de vegetação nativa, cerca de 9% já foram desmatados pelo menos uma vez nos últimos 35 anos e mais de 20% estão degradados por fogo ou exploração de madeira.

Bolsonaro omite a informação de que o Brasil é líder mundial em destruição de florestas tropicais. Só no ano passado foram desmatados na Amazônia e no Cerrado mais de 17 mil km2 (o equivalente a cerca de 1,7 milhão de campos de futebol), segundo dados do Inpe. A estimativa para 2020 é que o número seja ainda maior.

Análise da Global Forest Watch mostra que o Brasil concentrou mais de um terço de toda a perda de florestas tropicais primárias em 2019. Depois de bons resultados obtidos pelo plano de controle do desmatamento na Amazônia implementado a partir de 2004, os dados indicam um retrocesso de quase 12 anos.

“Mantemos o firme compromisso de continuar a preservar nosso patrimônio ambiental. Também mantemos a determinação de buscar o desenvolvimento sustentável em sua plenitude, de forma a integrar a conservação ambiental à prosperidade econômica e social. O que apresento aqui são fatos, e não narrativas. São dados concretos, e não frases demagógicas, que rebaixam o debate público e, no limite, ferem a própria causa que fingem apoiar. O Hino Nacional de meu país diz que o Brasil é gigante pela própria natureza. Estejam certos de que nada mudará isso. Vamos continuar protegendo a nossa Amazônia, o nosso Pantanal e todos os nossos biomas. Contem com o meu país e o meu povo para tornar o mundo realmente mais desenvolvido e mais sustentável.”

FALSO

Ao contrário do que afirma o presidente, o Brasil não está protegendo seus biomas. Com o desmonte dos órgãos ambientais, as multas na Amazônia despencaram 62% até outubro de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.

O desmatamento aumentou 34% no primeiro ano do governo Bolsonaro. Foi a maior taxa em 11 anos e a maior elevação percentual deste século. Dados de alertas do Inpe indicam que a devastação deve aumentar na mesma proporção em 2020.

Já as queimadas na Amazônia aumentaram 20% de janeiro a 22 de novembro, na comparação com o mesmo período do ano anterior. No Pantanal foi registrado o maior número de focos de toda a série histórica do monitoramento do Inpe, um aumento de 127% em relação a 2019. Quase um terço (29%) do bioma foi destruído pelo fogo.

“No cenário mundial, somos responsáveis por menos de 3% da emissão de carbono, mesmo sendo uma das dez maiores economias do mundo.”

VERDADE, MAS

Bolsonaro repete afirmação feita em discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro. Segundo o SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões do Observatório do Clima, o Brasil lançou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2 e) em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, um aumento de 9,6% em relação a 2018.

É menos de 4% das emissões globais, mas isso torna o país o quinto maior emissor do planeta, atrás apenas da China (11,5 bilhões de toneladas), dos EUA (5,8 bilhões), da Índia (3,2 bilhões), e da Rússia (2,4 bilhões). Os dados por país podem ser obtidos no ClimateWatch, plataforma do WRI.

O dado mostra que a tendência de redução das emissões no Brasil, verificada entre 2004 e 2010, está se revertendo, e indica que o país não cumprirá a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) para 2020.

As emissões per capita do Brasil também são maiores que a média mundial. Em 2019 cada cidadão brasileiro emitiu 10,4 toneladas brutas de CO2e, contra 7,1 da média mundial.