Estudo com 36.869 estações meteorológicas desde 1950 viu a mesma tendência em locais urbanos e rurais

Em maio de 2019, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, questionou em audiência no Congresso Nacional dados sobre o aquecimento global com argumento que havia sido refutado oito anos antes, em amplo estudo sobre a temperatura da superfície da Terra coordenado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley.

O chanceler afirmou na ocasião: “Nos Estados Unidos, foi feito um estudo sobre estações meteorológicas, e diz que muitas estações que, nos anos 1930 e 1940, ficavam no meio do mato, hoje ficam no asfalto, na beira do estacionamento. É óbvio que aquela estação vai registrar um aumento extraordinário da temperatura. E isso entra na média global.”

Este é um dos argumentos mais comuns (e furados) dos negacionistas da mudança do clima. O estudo do Berkeley Earth, concluído em 2011, reuniu dados de 36.869 estações meteorológicas, quase metade delas em áreas rurais, desde 1950. Ao contrário do que afirmou o ministro, foi verificada a mesma tendência de aquecimento em locais urbanos e rurais: cerca de 1°C ao longo do último século. Ironicamente, o estudo foi iniciado justamente com a intenção de provar que a tendência de aquecimento era um viés causado pela localização dos instrumentos– os tais “termostatos (sic) no asfalto” que o chanceler lançou à infâmia.

Outras análises mostram resultados semelhantes. Segundo a Nasa, a Terra teve em 2019 temperatura média 0,98°C mais alta que a média de 1951 a 1980. Foi o segundo ano mais quente desde o início das medições com termômetros, em 1880, perdendo apenas para 2016, por diferença de 0,04o C. A análise mostra que 19 dos 20 anos mais quentes dos últimos 140 anos, quando foram iniciadas as medições globais com termômetros, ocorreram no século 21. A exceção é 1998, ano de um mega-El Niño.

Mas os cientistas não se fiam apenas em um tipo de instrumento ou uma série de dados para afirmar que o planeta está esquentando. Satélites desde o fim dos anos 1970 e balões meteorológicos contam essencialmente a mesma história.

 

 

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